Conheça um pouco mais de feminismo além de Simone de Beauvoir e Frida Khalo
Considerada patrona (este termo aqui não cabe bem, mas é o melhor que a língua portuguesa nos permite) do movimento feminista, Simone de Beauvoir é uma figura fundamental na história do movimento.
Sua importância se deve justamente a discussão que criou a respeito da construção do papel da mulher na sociedade, semente do pensamento feminista, inspirando muitas outra sociólogas e filósofas feministas até os dias de hoje.
Junto com ela, sobretudo com o desenvolvimento de uma discussão feminista latino-americana, a figura de Frida Khalo ascendeu como ícone por sua história pessoal, que foi representada e narrada em sua arte. E hoje vemos seu rosto estampado em várias referências vinculadas ao movimento feminista.
Mas porque especificamente, vamos falar de feminismo além dessas duas figuras?
Não é um ato de protesto ou desrespeito a sua importância, mas em um movimento que fala de igualdade e que presa pela pluralidade das narrativas das mulheres no mundo, se torna importante falar sobre os vários feminismos e outras figuras históricas que foram e são tão importantes para o movimento como elas.
Nossa proposta aqui hoje é conhecer e refletir sobre outras personagens históricas que também são importantes na luta pela igualdade de gênero e a conquista de direitos pelas mulheres ao longo da história moderna e contemporânea (porque a luta, infelizmente, ainda não acabou!).
Como o feriado é dia oito, escolhemos 8 mulheres muito importantes para o movimento feminista (Superstição? Talvez) e contaremos brevemente um pouco de sua história e engajamento (depois pesquise mais sobre elas, vale muito a pena, e aqui vai ficar bem resumidinho hehehe).
1. Sojourner Truth
A história da ativista e abolicionista nova-iorquina Sojourner Truth (nascida Isabella Baumfree) remonta aos tempos da escravidão e narra os desafios, injustiças e conflitos que envolvem este período da história.
Truth viveu o período entre a criação e efetivação da ei de Emancipação do Estado de Nova Iorque, de 1799 a 1827. Nos anos que se seguiram à sua liberdade, Truth trabalhou como assalariada, até se mudar para a cidade de Nova York.
Ao longo deste tempo, ela também se vinculou fortemente ao cristianismo protestante, o auge deste envolvimento resultou na mudança do seu nome de nascença, de Isabella Baumfree, para Sojourner Truth.
A história da sua vida é entremeada por sua participação ativa na causa abolicionista e dos diretos das mulheres, sendo uma das poucas mulheres negras a participar do movimento sufragista majoritariamente branco.
A história de Truth e seu engajamento mostrou não apenas a capacidade e o direito das mulheres de ocupar a sociedade, mas também chamou a atenção para o fato de que as demandas e desafios das mulheres negras na sociedade são muito diferentes das mulheres brancas.
2. Susan Brownell Anthony
Ainda na vanguarda, com as primeiras movimentações a favor do direito das mulheres no período vitoriano, temos Susan Brownell, contemporânea a Sojourner Truth, que nasceu em Massachusetts (te desafio a ler este nome, SOS), nos Estados Unidos.
A atuação de Brownell no movimento feminista focou na conquista de direitos vinculados à autonomia das mulheres, como o direito à propriedade, podendo possuir bens registrados em seu próprio nome.
(Antes disso, todos os bens vinculados a mulher ficavam sob guarda, nesta ordem, do pai, marido, ou irmão na ausência do pai e do marido).
Era tão avessa aos moldes da sociedade patriarcal que ainda bem jovem, Susan decidiu jamais se casar, posicionamento que manteve por toda a vida. Além disso, ela ansiava pela conquista do direito ao voto, mas esta realização aconteceu apenas após sua morte.
3. Sira Diop
Sakiliba Sissoko, mais conhecida pelo sobrenome de casada Diop, nasceu em Segú, no Máli. Diop foi uma das primeiras mulheres a realizar um bacharelado e a primeira professora de ensino fundamental a ser condecorada no país.
Sua jornada acadêmica foi marcada pelo espírito do pan-africanismo, que focava em um posicionamento voltado para a realidade regional, contra a narrativa e o olhar criado pelos colonizadores.
Isto influenciou seu posicionamento na luta pelos direitos das mulheres africanas, engajando as mulheres do seu país a participarem de associações, sindicatos e ONGs, para que deste modo elas defendessem seus diretos e conquistassem sua autonomia profissional.
Ao longo de sua carreira fundou diversas organizações atuantes no apoio às mulheres, sobretudo na busca pela inserção e garantia de direitos as mulheres no mercado de trabalho. Assim como atuou em iniciativas voltadas para a educação em Mali.
Diop também foi muito importante na luta contra os casamentos forçados, que junto com outras ativistas redigiram um novo Código Matrimonial que foi promulgado em 1962, tornando o enlace laico e proibindo os casamentos forçados.
4. Maya Angelou
Marguerite Anna Johnson nasceu em Missouri, mas viveu boa parte de sua infância e juventude no Arkansas, ao sul dos Estados Unidos, onde conviveu com a segregação e a discriminação racial.
Além das violências raciais vivenciados por ela, Marguerite sofreu abusos em casa pelo padrasto quando tinha oito anos de idade. Ao tomar conhecimento do ocorrido, seu tio o matou. O choque de todo o processo levou a jovem a emudecer-se nos 5 anos seguintes, acreditando ser a culpada da morte de seu abusador.
Somente anos depois, já sob o pseudônimo de Maya Angelou que a autora começou a escrever seus primeiros textos e poesias. Neles, a escritora relata sua história que se tornou uma referência para as mulheres, principalmente as negras, por meio do seu processo de superação, afirmação de identidade, força e racismo.
Já a sua jornada ativista, iniciou-se em Nova Iorque, na década de 50, quando passou a fazer parte da Corporação dos Escritores do Harlem, este grupo de jovens escritores e artistas negros estavam envolvidos com o Movimento dos Direitos Civis. Ali, Maya teve contato com Malcolm X e Martin Luther King.
5. Vandana Shiva
Nome importante do ecofeminismo, Vandana Shiva é uma física, ativista ambiental e antiglobalização. Como o próprio nome sugere, seu ativismo se baseia na relação das mulheres com o meio ambiente, sobretudo em países periféricos.
Sua luta também envolve a manutenção dos saberes e práticas tradicionais de agricultura e contra o agronegócio imperialista baseado na engenharia genética e na monocultura, que têm se mostrado danoso tanto ao meio ambiente quanto aos pequenos agricultores e suas comunidades.
O ecofeminismo, do qual Vandana faz parte, se baseia na participação e conhecimentos tradicionais reunidos pelas mulheres. Ela defende uma produção agrícola mais sustentável, mudando o sistema atual centrado na lógica patriarcal de exclusão para uma alternativa local.
Seu trabalho na promoção da biodiversidade como forma de aumentar produtividade, nutrição e renda dos trabalhadores da agricultura é tão expressivo, que ela foi reconhecida como heroína ambiental pela revista Time em 2003.
6. Djamila Ribeiro
Um nome contemporâneo muito relevante na luta das mulheres no Brasil, Djamila Ribeiro, começou sua atuação aos 18 anos, quando se envolveu com a ONG “Casa da Mulher Negra”. Ao longo da sua atuação na ONG, Djamila começou a estudar temas relacionados a raça e gênero.
Seu posicionamento como militante feminista negra ganhou mais notoriedade na internet. Ela frisa como esta ferramenta é fundamental para o movimento feminista negro, uma vez que as narrativas hegemônicas predominantes na mídia marginalizavam a realidade e o papel social das mulheres negras.
O trabalho de escritora de Djamila pode ser encontrado facilmente na internet, onde ela atua como colunista em diversos sites.
Nestas plataformas nota-se a ampliação do acesso a realidades de mulheres de outras raças e etnias, trazendo um novo entendimento de que, apesar do machismo afetar a todas as mulheres, isto ocorre por vieses diversos, que dependem das realidades nas quais estas mulheres estão inseridas.
7. Jean Enriquez
Jean Enriquez, nascida nas Filipinas, é diretora-executiva da Coalizão contra o tráfico de mulheres da região do Pacífico Asiático, coordenadora internacional da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e advogada pelos direitos das mulheres.
Ao longo de 30 anos, Enriquez está envolvida com iniciativas em prol dos direitos humanos, com foco no direito internacional das mulheres. Sua experiência e conhecimento sobre o assunto fez dela uma referência do governo internacional, especialmente no Departamento de Desenvolvimento de Assistência Social, em treinamentos e conhecimento de problemas de gênero.
Nas Filipinas, Enriquez participou da elaboração do projeto de lei contra o tráfico humano e atua com iniciativas e ações contra o tráfico de mulheres para a prostituição. Este trabalho envolve educação sexual para mulheres, saúde, direitos reprodutivos e participação política.
A eficácia de suas ações e iniciativa foram tamanhas que ela foi convidada pelas Nações Unidas e vários governos para falar a respeito dos meandros para projetos anti-tráfico bem-sucedidos.
8. Malala Yousafzai
Por último, mas em hipótese alguma menos importante, Malala Yousafzai. A história da jovem ativista paquistanesa, na época com cerca de 11 anos, ficou mundialmente conhecida depois de ela sofrer um atentado pelo talibã, por fazer publicações num blog incentivando a volta das meninas às escolas.
Quando em 2008, o líder do talibã do Vale Swat decretou o fim do acesso às meninas a escola, Malala foi incentivada pelo pai, que era professor na escola em que estudava, e uma jornalista a falar sobre a importância dos estudos e as dificuldades que as mulheres do país enfrentavam para concluir os seus.
O blog “Diário de uma Estudante Paquistanesa”, mesmo escrito sob um pseudônimo, acabou fazendo tamanho sucesso que a identidade de Malala logo ficou conhecida. E em 2012, membros do talibã tentaram assassiná-la com um tiro na cabeça.
Depois de sobreviver ao atentado, Malala criou um fundo, sem fins lucrativos, com o objetivo de facilitar o acesso das mulheres de todo o mundo à educação.